quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que é a Espeleologia ?


O termo Espeleologia surge do latim spelaeum, do grego σπήλαιον, "caverna". Esta denominação corresponde há ciência que estuda as cavidades naturais e outros fenómenos cársticos, nas vertentes da sua formação, constituição, características físicas, formas de vida, e sua evolução ao longo do tempo.


Sendo uma actividade que se dedica ao estudo das cavernas, a Espeleologia não se resume aos aspectos técnico desportivos da progressão em grutas. Ao estudar a génese, a evolução, o meio físico e biológico do mundo subterrâneo, a espeleologia é igualmente uma disciplina técnico científica que se interliga com ciências como a Geologia, Biologia, Arqueologia e Antropologiao podendo ser incluidas outras técnicas como Fotografia, Topografia e Cartografia, que complementam a actividade do espeleólogo.

Desde tempos imemoriais que o homem se sente atraído pelas cavernas, quer como abrigo temporário ou definitivo quer como local mágico religioso dedicado ao culto dos deuses ou encantamento de inimigos, quer ainda como antecâmara do inferno ou local de actividades ligadas à magia negra. Também como um simples local que lhe chama a atenção e desperta a curiosidade, convidando a uma simples olhadela curiosa, a uma visita turístico desportiva ou a um paciente e apurado trabalho de estudo e investigação científica.

Mais ou menos em todos os locais existem cavidades no solo (naturais ou artificiais) mas é sobretudo, nas regiões onde existem extensões de rocha calcária que se encontram, verdadeiramente, o que é uso e costume designar-se por cavernas ou, mais popularmente, por grutas, covas, furnas ou algares.



História da Espeleologia em Portugal

Os primeiros registos da actividade espeleológica no nosso país datam de 1758, data em que o Padre Manuel Dias descreveu a exsurgência dos Olhos de Água; de 1854, ano em que foram publicados os escritos das escavações em grutas da região de Condeixa, da autoria de Costa Simões e de 1872, ano em que foi publicado, no Diário Ilustrado nº 127, a descrição de uma visita à Gruta das Alcobertas, da autoria de B. Soveral.



A realização em Lisboa do IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica, em Setembro de 1880, incluiu uma visita às grutas do Poço Velho em Cascais, importante necrópole neolítica, o que contribuiu decisivamente para o nosso reconhecimento no estrangeiro. Desde essa data até aos finais do século XIX, Portugal acompanhou a evolução europeia nestes domínios, publicando e apresentando em congressos internacionais trabalhos sobre grutas nacionais, como os de N. Delgado (1867, 1880, 1884, e 1889), E. Veiga (1886), F. P. Oliveira (1889), C. Serrão (1891), J. L. Vasconcelos (1895, 1896), M. Apolinário (1897) e de J. J. Nunes (1897). Os investigadores estrangeiros não ficaram indiferentes a este caudal de informação e antes do virar do século começaram a trabalhar nas nossas grutas, quer na área da antropologia quer na da biologia e hidrogeologia. Entre estas salienta-se P. Choffat que em 1891 iniciou a sua actividade em Portugal, cujos trabalhos se revestem de grande importância para o conhecimento geológico do país.

No princípio deste século renovaram-se as visitas de cientistas estrangeiros (W. Brindley, G. Eugenaud e E. Harlé), mas foi apenas nos anos vinte que estudiosos mais distintos nos visitaram, como H. Breuil, R. Jeannel, E. Recovitza e E. Fleury. Este último publicou, em 1923, o livro "Portugal Subterrâneo" e devido ao seu contributo nos campos da geologia e geoespeleologia nacionais pode ser considerado o "pai" da espeleologia em Portugal.

Na década de trinta verificou-se uma retoma dos portugueses aos trabalhos de arqueologia por A. Athayde, A. M. Nogueira, M. Costa e Mendes Costa, de biologia por F. Frade e de carácter geral por J. Boléo.

Na década de quarenta foi dado outro passo importante para a espeleologia com o aparecimento dos primeiros espeleólogos, os quais começaram como auxiliares e colaboradores das expedições científicas e que posteriormente se agruparam, tornando-se assim autónomos. Ainda nos anos quarenta surgiu o primeiro inventário de cavidades portuguesas, publicado na revista científica e literária de Coimbra "O Instituto" (1945); em 1948 é criado o primeiro clube de espeleologia e publicado um verdadeiro inventário das cavernas calcáreas de Portugal, da autoria de Bernardino e António Barros Machado, resultado dos seus trabalhos nos anos 30 e 40 e A. F. Martins que em 1949 publica um estudo global da geografia física do Maciço Calcáreo Estremenho. É de salientar que esta publicação foi reeditada em 1999.

O fim da década de 40 e o início da de 50 foram de grande importância para a espeleologia, com a exploração do complexo Moinhos Velhos - Pena - Contenda. Em 1957 efectua-se precisamente neste sistema uma expedição de alunos da Universidade de Londres. Assim, Moinhos Velhos e o seu sistema mantêm até 1985 o 1º lugar do "ranking" das cavidades em Portugal. Em 1956 e 1957 foram publicados estudos regionais sobre a Beira Litoral da autoria de A. F. Soares, L. N. Conde e A. F. Tavares.

Nos anos 60 a espeleologia começa a evoluir fora dos meios universitários e científicos: em 1961 é publicado por A. V. Moreira, na Escola Comercial Veiga Beirão, um folheto com o título "Noções de Espeleologia" e em 1963 o mesmo autor publicou "Espeleologia" nos cadernos de Educação Física. A década de 60 caracterizou-se ainda pelo início da actividade espeleológica nos Açores: um clube local, a Sociedade de Exploração Espeleológica - Os Montanheiros, faz explorações na Ilha Terceira; em 1963 V. H. Forjaz descreve uma cavidade da Ilha do Pico; em 1966 foi publicado pelo Centro de Instrução Especial de Espeleologia um trabalho sobre os canais lávicos da Ilha Terceira e em 1967 o Grupo de Espeleologia da Faculdade de Ciências de Lisboa realizou uma expedição aos Açores. Foi ainda na década de 60 que se formaram vários clubes de espeleologia e que surgiram os primeiros cursos de formação.

Na década de 70 a formação de espeleólogos passou a ter melhor qualidade, começando espeleólogos portugueses a realizar estágios em França e os clubes a apostar em cursos de formação. Surgem ainda publicações especializadas como: Speleo (Novembro de 1970), Boletim dos Serviços de Exploração Subterrânea; Espeleo Notícias (1972), Boletim do Gabinete de Estudos Espeleológicos do Centro Universitário de Lisboa; Algarocho (Julho de 1976), Boletim da Sociedade Portuguesa de Espeleologia.

Em 1973 teve lugar o 1º Encontro Nacional de Espeleologia onde estiveram presentes o Centro de Espeleologia de Coimbra, o Centro de Espeleologia de Lisboa, o Núcleo de Espeleologia de Leiria e Torres Novas, o Centro Piloto de Espeleologia e o Serviço de Exploração Subterrânea.

Na década de 80 surgiram mais duas publicações de natureza espeleológica: O Mundo Subterrâneo, da Associação de Espeleólogos de Sintra (1980) e EspeleoDivulgação, do Núcleo de Espeleologia da Associação de Estudantes da Universidade de Aveiro (Junho de 1982). As explorações estrangeiras a Portugal são retomadas em 1983, com a realização de uma expedição francesa à nascente do Alviela.

Em 1985 é publicado o livro "Grottes et Algares du Portugal" de C. Thomas; no mesmo ano o seu trabalho, juntamente com o SAGA - Sociedade dos Amigos das Grutas e Algares, na gruta do Almonda tornaram esta cavidade na 1ª do "ranking" nacional, contando actualmente com cerca de 13 Km de desenvolvimento total. Em Agosto de 1987 realiza-se mais uma expedição francesa ao nosso país, constituída por 12 espeleólogos e 8 mergulhadores que exploraram alguns algares e mergulharam as Nascentes do Alviela e Almonda, chegando na primeira a 425 metros de distância e atingindo a cota de mergulho de - 60 metros. No ano seguinte, uma outra expedição francesa à nascente do Alviela, desta feita com uma equipa da Comissão de Mergulho Subterrâneo da F.F.E.S.S.M., atingiu a cota dos - 78 metros e topografou 820 metros de galerias. Realizaram-se mais algumas expedições ao nosso país em anos posteriores, não só por franceses como também italianos e espanhóis.

Em 1990 surge mais uma publicação versando o território continental, o livro de Lúcio Cunha, "As Serras Calcárias de Condeixa - Sicó - Alveiázere. Estudo de Geomorfologia". Em Abril de 1994, o Grupo de Arqueologia e Espeleologia de Pombal descobre uma importante rede subterrânea na região de Penela, a qual é um dos maiores acontecimentos espeleológicos dos últimos tempos.

No decorrer desta importante descoberta, o Centro de Investigação e Exploração Subterrânea, o Grupo Protecção Sicó, o Núcleo de Espeleologia de Condeixa, a Sociedade dos Amigos das Grutas e Algares e a Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia descobrem, em 1997 - mais uma importante gruta associada ao mesmo sistema - o Algarinho.


Bibliografia:



Autor: Suse Carvalho

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