sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Mergulho e as correntes:
Em zonas caracterizadas por fortes correntes, geralmente, a ultima coisa que passará pela cabeça da maioria das pessoas é querer fazer ali um mergulho. Com efeito, a força que uma massa de água em movimento pode exercer é objecto de grande respeito e a ideia de ser arrastado mar fora faz com que a vontade inicial de mergulhar na corrente seja quase inexistente. O que muitos não sabem é que este tipo de mergulho pode ser verdadeiramente espectacular. As correntes trazem consigo inúmeros organismos e sedimentos, que constituem a base da cadeia alimentar da fauna e flora marinha. Por essa razão, locais onde existem grandes correntes são, regra geral, sítios preferenciais de ajuntamento de toda a espécie de peixes, grandes e pequenos, que ocupam todos os elos dessa cadeia. Também a maioria das plantas e corais dependem do alimento trazido pelos movimentos da água e por isso é frequente observa-los em abundância nestas zonas. Para além deste atractivo, os mergulhos em corrente, quando bem planeados, constituem uma agradável experiência no sentido em que o mergulhador pode percorrer grandes áreas sem efectuar sequer um movimento de barbatanas. Antes de progredirmos pelo planeamento e execução do mergulho em si, vale a pena distinguir já dois tipos de correntes: uma é causada pelas marés, mais previsível e controlável; a outra pode ter várias causas, como os próprios movimentos oceânicos, ventos, relevos no fundo, etc., por vezes bastante aleatórias e difíceis de entender. Outro ponto importante a ter em mente é o facto de a intenção deste tipo de mergulho é procurar o que geralmente se quer evitar nos restantes, ou seja, a própria corrente, e isto vai obrigar a fortes alterações na maneira de mergulhar. Não se pode entender o mergulho de forma estática mas sim em termos de movimento constante, por outras palavras, mesmo que o mergulhador não faça nada, o mais certo é ele continuar a movimentar-se à deriva da corrente. Toda a filosofia do mergulho em corrente deve centralizar-se nesta noção. Como é óbvio, o mergulho em corrente envolve alguns riscos e a única forma de garantir a segurança dos mergulhadores é fazer com que esses riscos sejam minuciosamente analisados e controlados. O primeiro passo será proceder a um estudo aprofundado do local, averiguar as suas condições específicas (como o tipo de corrente, direcção, força) e fazer um planeamento adequado, que deverá incluir tanto o mergulho em si como as possíveis contingências que poderão surgir. Uma vez no local do mergulho as primeiras precauções a tomar referem-se à entrada na água. Como o mergulho é sempre feito a dois, não é bom principio começa-lo logo com a separação do companheiro e, por essa razão, ou entram ambos em simultâneo ou o que salta primeiro deve ter o cuidado de não se deixar arrastar pela corrente antes que o outro salte. Para este ultimo caso, se fôr utilizado um barco, existe a opção de lançar alguns metros de cabo à água, com uma extremidade presa à popa da embarcação, ao qual o mergulhador se pode agarrar enquanto espera pelo companheiro. Depois de iniciado o mergulho as preocupações de evitar a separação continuam; quanto mais forte fôr a corrente e menor a visibilidade mais difícil se torna manter o contacto. O simples acto de agarrar uma rocha e ficar parado enquanto o companheiro segue à deriva é o equivalente, num mergulho sem corrente, a ambos nadarem fortemente em direcções opostas, pelo que é necessário um bom entendimento entre os dois e o alerta constante à presença do outro. É frequente existirem refúgios, atrás de saliências nas rochas, por exemplo, onde a água se encontra parada e que constituem locais perfeitos para parar um pouco, caso seja necessário. Se a separação ocorrer, será muito difícil o reencontro, devendo-se iniciar os procedimentos normais nestes casos, ou seja, procurar durante alguns segundos (atenção às bolhas) seguindo a corrente e se o contacto não fôr restabelecido, iniciar a subida sozinho e esperar à superfície. Embora possam existir situações em que o mergulhador progrida suficientemente perto da costa para conseguir atingi-la no fim do mergulho, o uso de um barco de apoio é, na maioria das vezes, quase indispensável. Nestes casos, o barqueiro deve ter plena noção do que está planeado e agir de acordo com as necessidades impostas pelos que estão na água. A diferença entre um bom e um mau apoio de superfície pode, por vezes, ser a diferença entre estar horas infindas perdido num mar imenso ou ser resgatado logo após o final do mergulho. O mergulhador é o principal interessado numa rápida visualização por parte do barqueiro, e para isso, deve contribuir com o uso de equipamento adequado de sinalização. Pode optar por uma bóia insuflável que o acompanhará à superfície durante todo o mergulho, devendo para este caso utilizar um carreto e desenrolar o fio até atingir, sensivelmente, o dobro da profundidade atingida; pode, no entanto, preferir usar uma bóia de patamar e apenas lança-la na parte final do mergulho, sendo óbvio que este método acarreta maior dificuldade de localização imediata; outros acessórios como um apito, foguetes sinalizadores, espelhos ou bandeiras com hastes desdobráveis, constituem uma panóplia de pequenas peças que ajudam o mergulhador a fazer-se notar, aumentando as probabilidades de ser rapidamente recolhido pelo barco de apoio. Em situações de tempo atmosférico adverso, em especial neblinas ou nevoeiros, ou mesmo chuva forte, onde a visibilidade à superfície se encontra reduzida, não será prudente a realização deste tipo de mergulho, pois o contacto visual entre o barco e mergulhadores ou entre mergulhadores separados, ficará seriamente afectado, pondo em risco a segurança de todos os que se encontram na água. O mesmo se verifica quando as condições de mar não são as melhores, com vagas altas e cachão provocado pelo vento. O mergulho em corrente possibilita grandes oportunidades de ver locais onde a vida aquática prolifera, especialmente grandes pelágicos e seus predadores (como os tubarões), e o facto de poder estar no meio de toda aquela azáfama natural de presa/predador e seguir ao sabor da força da água faz com que o mergulhador se sinta parte integrante deste mundo submerso. Tomando as devidas precauções, este é, sem dúvida, um tipo de mergulho a experimentar e a deixar-se levar…
                                                                                                 

Autor: açores

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