sábado, 5 de dezembro de 2009

Socorrismo no canyoning


Fazer canyoning é partir à descoberta de lugares paradisíacos rodeados por misteriosos labirintos, onde o leito de um rio ou ribeira, atinge uma importância capaz de abstrair o utilizador de outro lugar comparável.
No entanto, como em qualquer outra actividade exercida ao ar livre, existem perigos que por falta de conhecimentos técnicos e/ ou inexperiência podem pôr em risco a vida humana.
Sabemos que, mesmo para quem tem formação inicial em Primeiros-Socorros, este só deve actuar em casos simples ou de emergência e se não existir a possibilidade de o paciente ser socorrido em tempo útil por um profissional. Assim, a função do socorrista é de garantir um socorro básico e de emergência, que pode ser fundamental para salvar vidas.
Em caso de acidente é necessário manter a calma dos elementos do grupo, o conforto do sinistrado e procurar desenvolver os mecanismos necessários para que o socorro se efectue por profissionais de forma rápida e eficiente.
No entanto, devido à dificuldade de acesso aos locais o socorrista pode ver-se confrontado com a necessidade de desempenhar tarefas que à partida deveriam estar reservadas a especialistas, com a finalidade de garantir que o socorro se efectue em tempo aceitável, evitar o agravamento da situação e, em casos graves, procurar manter os sinais vitais do sinistrado.
Em qualquer dos casos, os meios de resgate e de socorro por profissionais devem ser activados sempre que necessário e o mais urgente possível.
Neste artigo, pretende-se aflorar de forma sumária, os procedimentos a tomar, nas situações mais comuns que podem ocorrer ao descer um canyon.

1. Queda


Devido ao contacto permanente com a água, salvo algumas excepções específicas do rio, o piso torna-se escorregadio o que obriga a uma atenção redobrada na forma como andamos e saltamos.

1.1 Feridas


§ Lavar com soro fisiológico
§ Cobrir com compressa esterilizada

1.2 Suspeita de membros fracturados

§ Se possível retirar a vítima do contacto com a água
§ Colocá-la numa posição minimamente confortável
§ Expor o local, cortando o fato de neoprene/roupa se for preciso
§ Tentar imobilizar a articulação acima e abaixo do local ferido
§ Caso haja topos ósseos à vista: lavar com soro fisiológico e cobrir de forma a manter húmida essa região
§ Se possível transportá-la ou pedir ajuda via 112 (accionar os meios de socorro adequado, equipas de resgate)

2. Afogamento


Ao descer uma cascata, devido ao volume do caudal e/ ou inexperiência, pode ocorrer uma dispneia (dificuldade respiratória).
Em rios com caudais significativos os movimentos de água e sifões podem criar situações iminentes de afogamento

Como evitar
§ Criar o canal de respiração, inclinando a cabeça para baixo e respirando pela boca de forma a controlar a introdução de água.
§ Evitar cascatas com grande caudal e evitar zonas com movimentos de água perigosos
§ Descer a vítima rapidamente ou retirá-la da àgua, pois existe o perigo de afogamento e de choque

Se a vítima continuar com falta de ar:
§ Colocá-la numa posição minimamente confortável
§ Animar/ acalmar a vítima
§ Aquecê-la (cobertura de sobrevivência)

3. Diferenças Térmicas


O canyoning pode ser muito desagradável se o utilizador não estiver preparado para resistir às baixas temperaturas da água e/ ou ao excessivo calor corporal provocado pelas caminhadas num fato demasiado apertado.Por isso a escolha do fato (tamanho, espessura e modelo) é uma das mais importantes decisões a tomar antes de começar a realizar esta actividade.Consultar: “Equipamento necessário para a prática de Canyoning”.

3.1 Queimaduras pelo Frio


§ Palidez
§ Cor rocheada nas extremidades (cianose)
§ Insensibilidade
§ Rigidez
§ Formigueiro
§ Se possível retirar a vítima do contacto com a água
§ Aquecê-la (cobertura de sobrevivência)
§ Animar/ acalmar
§ Ingerir líquidos quentes

3.2 Hipotermia

§ Arrefecimento geral
§ Temperatura abaixo dos 35º

Aquecimento global da vítima, retirando se possível a roupa húmida e substituir por roupas secas ou utilizar manta de sobrevivência

3.3 Choque térmico


Variações rápidas de temperaturaFalta de irrigação de oxigénio no cérebro
§ Suores frios
§ Palidez
§ Tremuras
§ Tonturas
§ Taquipneia (respiração rápida regular)
§ Taquicardia (batimentos cardíacos rápidos)
§ Algumas situações, paragem cardio respiratória

Inconsciente:
§ Se respira, colocá-la em posição PLS
§ Se não respira, iniciar manobras de suporte básico de vida
§ Transportar a vítima ou pedir ajuda via 112 (pode-se colocar a possibilidade de contactar alguém que tenha conhecimentos técnicos em resgate)
§ Verificar sinais vitais minuto a minuto
§ Aquecimento global do corpo

Consciente:
§ Se possível retirar a vítima do contacto com a água
§ Deitar a vítima
§ Desapertar fato/ roupa
§ Elevação dos membros inferiores
§ Aquecê-la (cobertura de sobrevivência)
§ Animar/ acalmar
§ Ingerir líquidos quentes

3.4 Golpe de calor

§ Ambientes quentes e húmidos (efeito sauna) Pele pálida, suada e fria
§ Pessoa apática
§ Desidratação
§ Náuseas
§ Vómitos
§ Dores de cabeça
§ Tornar o ambiente ventilado, retirar ou desapertar fato/ roupa
§ Proceder ao arrefecimento corporal
§ Se a vítima não entrar/ estiver em choque, dar água em pequenas quantidades

3.5 Golpe de calor

Ao percorrer um canyon com uma exposição prolongada com fato de neoprene e com pouca humidade.
Socorro
§ Manter uma atitude calma e serena
§ Retirar a vítima do ambiente hostil
§ Proceder ao arrefecimento hostil
§ Proceder ao arrefecimento corporal

4. Manobras de Suporte Básico de Vida

4.1 Via aérea
Mantenha a permeabilidade da via aérea; Desaperte a roupa e exponha o tórax; Verifique corpos estranhos na boca (comida, próteses dentárias soltas, secreções, etc.)

4.2 Avalie a ventilação
Se ventilar normalmente continue o exame ou PLS

4.3 Circulação
§ Pesquise sinais de circulação
§ Pulso carotídeo
§ Mantenha a via aérea permeável
§ Pesquise se respira VOS (ver, ouvir, sentir)
§ Existência de movimentos
§ Tosse


Se a vítima não ventila, mas tem sinais de circulação…
§ Mantenha as insuflações
§ Ritmo de 10 por minuto
§ Cada insuflação com 2 segundos
§ Aguarde 4 segundos
§ Avalie de novo sinais de circulação ao fim de 1 minuto (10 insuflações)
Se a vítima não ventila, e não tem sinais de circulação…
Inicie compressões torácicas


Mantenha o rácio de 2 insuflações por 15 compressões até que:
§ A vítima recupere
§ Um médico mande parar as manobras
§ Seja substituído
§ Entregue ao técnico na unidade de saúde
§ Exaustão

por: Inês Silva

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