sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Mergulho nocturno
Mesmo para os mais experientes em mergulho à luz do dia, o mergulho nocturno pode ser uma redescoberta.
Locais que durante o dia não apresentam grande interesse paisagístico ou biológico, de noite enchem-se de sombras e vida, transformando-se no melhor dos “spots”!
Até mesmo aqueles sítios que durante o dia são mergulhos “medíocres” podem se converter num espectáculo nocturno deslumbrante.
A possibilidade de encontrar vida que está oculta ou ausente durante o dia, de observar as verdadeiras cores dos seres vivos, de descobrir no “foco”, a cada movimento das lanternas, uma paisagem onde os contrastes entre a escuridão e a luz nos fazem imaginar o que poderemos descobrir a seguir, desligar as fontes de luz e observar a luminescência do meio que nos envolve, são motivações mais que suficientes para nos aguçar a vontade de realizar este tipo de mergulhos.

Apesar dos procedimentos para estes mergulhos não serem assim tão diferentes dos aconselhados para os restantes, dado serem realizados de noite existem algumas recomendações específicas.


Não passam de meras recomendações e a situação melhor passa sempre por receber formação adequada à prática deste tipo de mergulhos.

É normal que no início o mergulhador possa sentir algum medo ou desconforto em relação ao mergulho nocturno, mas com calma, escolhendo para os primeiros mergulhos uma zona pouco agitada, sem corrente, com bom tempo, sempre acompanhado por mergulhadores com experiência, limitando a profundidade dos mergulhos, munido de boas fontes de iluminação e com redundância de lanternas, em breve corremos o risco de nos viciar.

Uma grande vantagem de realizar mergulho nocturno a baixas profundidades é o aumento do tempo de fundo disponível. Podemos iniciar o mergulho no crepúsculo e prolongá-lo até ser noite cerrada, desfrutando do despertar da vida para a escuridão e do crescimento da sombra até à completa penumbra.

Dada a escuridão envolvente e sem pontos de referência adequados, devemos consultar os instrumentos com maior regularidade, de forma a verificar a profundidade e orientação do mergulho. Por uma questão de stress, excitação ou maior actividade, o consumo de ar pode também ser algo aumentado.

Os instrumentos, quando fazendo parte de uma consola, devem estar presos ao colete para que estejam rapidamente ao alcance das mãos e visão. Isto permite evitar andar tactear no escuro. O mesmo raciocínio é válido para os Octopus, pois este deve estar visível e rapidamente acessível em caso de necessidade.

É uma boa ideia manter a proximidade do nosso parceiro. Mais que durante o dia, ele poderá ser uma preciosa ajuda no meio da escuridão, quanto mais não seja para nos iluminar enquanto se reajusta o equipamento ou se resolve algum percalço inesperado.
Devemos lembrar-nos que mesmo a curta distância, se o foco das nossas lanternas não estiver na direcção do campo visual do parceiro, este poderá não conseguir localizar-nos e haver a separação entre os dois.
Para o evitar, o uso de um “strobe” num ponto que seja facilmente visível de todos os ângulos, pode contribuir para aumentar a segurança. Não devemos no entanto focar a nossa visão no flash emitido pelo strobe sob pena de diminuirmos temporariamente a nossa capacidade de visão nocturna. Também devemos ter em conta que o strobe, como fonte de “poluição luminosa”, pode contribuir para afastar aquelas espécies mais sensíveis e que tanto desejávamos ver!
É importante ter cuidado com os locais para onde “apontamos” o foco da lanterna. Os nossos olhos ou a face do parceiro serão os piores dos sítios pela “cegueira” temporária que podemos causar.

Conhecer os sinais entre parceiros e saber executá-los na escuridão é fundamental. Sinais com os dedos ou as mãos dificilmente serão vistos ou entendidos num mergulho nocturno, a não ser que haja proximidade entre parceiros e sejam devidamente iluminados com o foco da nossa própria lanterna ou da do parceiro.
Para “distâncias maiores”, recomendam-se sinais simples como um movimento circular do foco para indicar que está tudo bem (Ok), balançar a lanterna lateralmente para chamar a atenção do parceiro (Look) ou balançar na vertical para pedir auxílio (Help), tomando todas as precauções para evitar o encandeamento de alguém.

Se por qualquer motivo existir separação durante o mergulho, devemos olhar ao redor com atenção, mantendo a nossa própria lanterna acesa e procurar a luz do parceiro. Actuar como uma espécie de “Farol” na escuridão. E se não for suficiente, iniciamos a subida de forma controlada e rodando com a lanterna acesa enquanto subimos, tentando sempre vislumbrar a iluminação do parceiro. Uma boa solução pode ser ligar apenas o strobe durante a descida, subida ou quando nos separamos do parceiro, de forma a facilitar a localização de ambos.

Muitas vezes, por inexperiência ou “medo”, evitamos desligar as lanternas ao chegar ao fundo. Mas experimentem fazê-lo uma vez. Claro que antes, à superfície, todas as lanternas, desde a principal às alternativas, devem ser recarregadas e devidamente ensaiadas.
No fundo, se não quisermos desligar a lanterna principal por receio de que o mexer no interruptor possa causar avaria, podemos sempre encostar o foco ao nosso corpo ou colocar uma mão à frente, mantendo a lanterna acesa e desfrutar da luminescência natural no meio da escuridão. Ao fim de alguns segundos (podemos ter de esperar mais de 30 segundos na completa escuridão) e à medida que os nossos olhos se habituam à pouca luz do meio, dilatando as pupilas, o espectáculo inicia-se e podemos observar autênticas “explosões” de cor e vida!

Ao emergir do mergulho, se estivermos longe do barco, podemos sinalizar a nossa presença com a lanterna acesa na direcção do barco, tomando as mesmas precauções que debaixo de água para não encandear ninguém. Manter o strobe ligado pode ser recomendável e muito útil nesta situação.
Ficam apenas estas ideias que não pretendem ser uma “cartilha de mergulho nocturno” mas somente uma reflexão sobre o tema. Espero que experimentem e possam gostar tanto como eu gostei desde o meu primeiro mergulho nocturno.





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