sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

x

Mergulho em altitude


A cada dia, mergulhar longe do mar se torna mais popular. Rios, lagos, represas, cavernas e minas abandonadas atraem todos os tipos de mergulhadores pelo mundo. Alguns buscam a aventura e o desafio na exploração de cavernas submersas, enquanto outros simplesmente moram longe do mar e encontram nestes locais uma alternativa para praticar o mergulho sem ter que enfrentar longas viagens.
No entanto, muitos destes novos locais de mergulho estão acima do nível do mar e além de 300m de altitude o mergulhador precisa estar atento a alguns factores que podem afectar sua imersão e realizar as correcções adequadas.As principais diferenças entre o mergulho ao nível do mar e o mergulho acima dele surjam devido à redução da pressão atmosférica com o aumento da altitude. Embora varie em função das condições meteorológica, a pressão ao nível do mar é, teoricamente, de 760 mmHg (milímetros de mercúrio) ou 1013.2 hPa se você prefere unidades mais técnicas. Esta pressão é também conhecida como "uma atmosfera" (atm). A medida em que aumentamos a altitude, o ar vai se tornando mais rarefeito e a pressão diminui, a grosso modo, 8 mmHg a cada 100 m de altitude, como mostra o gráfico a seguir.







O maior efeito da redução da pressão é na descompressão. Em qualquer mergulho, o corpo é exposto a uma pressão significativamente maior que a atmosférica e os tecidos absorvem parte dos gases inertes respirados pelo mergulhador, como o nitrogênio nos mergulhos com ar ou nitrox. As tabelas de descompressão e computadores de mergulho estabelecem limites na velocidade de subida e eventualmente impõe paradas para que estes gases absorvidos durante o mergulho possam ser eliminados lentamente, evitando a formação de bolhas e a chamada doença descompressiva.
O problema é que as maiorias das tabelas de descompressão foram calculadas pressupondo que o mergulho é feito ao nível do mar, ou seja: que a pressão no início e no final do mergulho é de 760 mmHg. Ao retornar à superfície, a tensão dos gases inertes nos tecidos do mergulhador deve ser suficientemente baixa para não formar bolhas nocivas a uma pressão ambiente de 760 mmHg. Quando o mergulho é realizado acima do nível do mar, a pressão é menor e a tensão dos gases inertes pode ser suficiente para causar a doença descompressora. Para evitar que isto aconteça, são necessários alguns ajustes nos cálculos de descompressão (alguns computadores realizam estes cálculos automaticamente).
Uma forma de corrigir as tabelas é utilizar a chamada profundidade corrigida. Se a tabela "acreditar" que a quantidade de gás inerte nos tecidos do mergulhador é maior que a que existe na realidade, ela indicará limites para não-descompressão menores e paradas de descompressão maiores, compensando o efeito da pressão atmosférica reduzida na superfície. O processo é semelhante ao utilizado para o cálculo de mergulhos repetitivos, onde utilizamos tempos de fundo maiores que os reais para compensar o nitrogénio ainda não eliminado dos mergulhos anteriores.
A profundidade é calculada multiplicando-se a profundidade real por um factor de correcção sempre maior que 1, o que implica em profundidades corrigidas maiores que as reais. Este factor é obtido dividindo-se a pressão atmosférica ao nível do mar pela pressão atmosférica no local de mergulho.

Para evitar que você tenha que levar um computador e uma estação meteorológica em cada mergulho,   incluímos com este artigo uma tabela que fornece a profundidade corrigida para diversas combinações de altitude e profundidade real. Ela fornece também o factor de correcção, que você pode precisar para cálculos adicionais. Como nas tabelas de descompressão, arredonde sempre em favor da segurança. Veja também o exemplo de cálculo apresentado abaixo.
Outro ponto importante é que o corpo do mergulhador não se adapta imediatamente às mudanças de altitude. Ao subir do nível do mar para um lago de montanha por exemplo, o mergulhador pode chegar ao lago antes de ter eliminado o nitrogénio que estava saturado em seus tecidos. Se iniciar um mergulho imediatamente, ele estará efetivamente efetuando um mergulho repetitivo! Por isto recomenda-se uma adaptação de pelo menos 24 horas na nova altitude antes do primeiro mergulho. Caso contrário o mergulhador terá que levar em conta o nitrogénio de seus tecidos nos cálculos de descompressão (algumas tabelas fornecem grupos repetitivos para o primeiro mergulho imediatamente após uma mudança de altitude).
A redução da pressão atmosférica causa também outros efeitos que podem afectar o mergulhador:
à
Leitura dos profundímetros: cada tipo de profundímetro se comporta de maneira diferente em altitude, indicando profundidades maiores ou menores que as reais. Alguns profundímetros digitais ajustam-se automaticamente à altitude, enquanto que alguns modelos analógicos podem ser ajustados manualmente.
à
Flutuabilidade das roupas: em grandes altitudes as bolhas de gás no neoprene das roupas húmidas podem expandir, aumentando a flutuabilidade da roupa. Em alguns casos, podem ser necessários até 3 kg de lastro adicionais!
à
Hipoxia na superfície: em altitudes superiores a 2.000 m, a menor quantidade de oxigénio disponível no ar atmosférico pode causar sintomas como dispneia (falta de ar), aumento da frequência cardíaca e dores de cabeça. A principal consequência é a redução da capacidade de realizar esforços, o que dificulta o transporte de equipamentos, a natação na superfície e até caminhadas para acesso ao local de mergulho. Uma vez submerso, o problema desaparece, já que a pressão parcial do oxigénio aumenta significativamente, retornando assim que o mergulhador atinge a superfície.
Outra peculiaridade do mergulho em altitude que normalmente passa desapercebida pelos iniciantes é que lagos e rios de montanha são de água doce. A água doce possui uma densidade ligeiramente menor que a água salgada do mar (1.000 contra 1.025 kg/l), o que também gera diferenças na leitura de profundímetros e na flutuabilidade. Os profundímetros (em geral calibrados para água salgada) indicarão profundidades 2.5% menores que as reais.
A menor densidade da água faz com que o mergulhador necessite de menos lastro (cerca de 2.5% do peso do mergulhador) do que quando mergulhando no mar. Este efeito, aliado a expansão da roupa faz com que um teste de flutuabilidade para ajuste de lastro antes do primeiro mergulho se transforme em uma excelente ideia…
Se seus planos para o futuro incluem mergulhos acima de 700 m de altitude, não deixe de procurar uma boa escola. Algumas delas oferecem excelentes cursos desta especialidade técnica!

Suponha que você quer realizar um mergulho de 40 minutos a 20 m de profundidade em um lago a 2.400 m de altitude. Para simplificar, adoptaremos as tabelas de descompressão da U.S. Navy como referência.
Se o mergulho fosse no mar, após 40 minutos você poderia retornar à superfície sem paradas de descompressão e ainda teria 10 minutos de tempo de fundo antes de ter que realizar paradas para descompressão. No entanto, o mergulho é em altitude e todos os cálculos têm que ser corrigidos. A 2400 m , a pressão atmosférica é de apenas 563 mmHg. Consultando a tabela de profundidades corrigidas na linha de 2.400 m de altitude, vemos que o factor de correcção neste caso é de 1.350.
O planeamento do mergulho deve ser feito utilizando-se uma profundidade de 28 m (valor encontrado na intersecção da linha de 2.400 m de altitude com 21 m de profundidade), o que implica em uma parada de descompressão de 15 minutos a 3 m. Ou melhor: 15 minutos a 2.2 m, já que a profundidade da parada de descompressão também precisa ser corrigida, assim como a velocidade de subida (13 m/min em nosso exemplo).

Muitos computadores incorporam os ajustes necessários para o mergulho em altitude, dispensando o uso de tabelas e cálculos adicionais. Estes ajustes são particularmente comuns nos computadores que utilizam os modelos do Prof. Bühlmann, desenvolvidos na Suiça, onde a maioria dos mergulhos são realizados em lagos e rios dos Alpes.
O Aladin Air X da Uwatec, por exemplo, mede a pressão atmosférica a cada minuto, mesmo quando desligado e ajusta-se automaticamente a quatro zonas distintas: de 0 a 1.000 m, de 1.000 a 2.000 m, de 2.000 a 3.000 m e de 3.000 a 4.000 m (os cálculos de descompressão são desabilitados em altitudes superiores a 4.000 m). Se o computador detecta uma variação significativa de altitude, ele entra no modo de superfície e indica o tempo necessário para que o mergulhador adapte-se à nova pressão. Caso um mergulho seja iniciado antes do final do tempo de adaptação, o computador ajusta os tempos de descompressão tratando o mergulho como repetitivo.
Se você pretende utilizar um computador para mergulho em altitude, leia atentamente seu manual para saber se ele está preparado esta situação, quais seus limites operacionais e se algum procedimento especial deve ser adoptado.








Sem comentários:

Enviar um comentário